quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Passado ligado



 
Tudo cheirava a passado e até a vodca tinha o gosto azedo do teu beijo.

O telefone tocou as duas da madrugada e eu já sabia quem seria do outro lado da linha, hesitei em levantar da cama deixei que tocasse duas, cinco dez vezes. Talvez o passado achasse que eu estivesse em um sono profundo ou então que eu estivesse naquele exato dia decidido passar a noite nas ruas, dedicando meus versos sujos aos bares da cidade. Mas o telefone não parou, não parava. Decidir atender e acabar de vez com esse laço entre o pesadelo e a realidade.

- (Silêncio)
  
Atende e só conseguir ouvir uma respiração rápida demais e mais nada. Tentei voltar a dormir não conseguir. Aquela ligação tinha me despertado de todos os sonos, enquanto aquele telefone não tocasse de novo não conseguiria dormir e eu sabia que ele tocaria. E tocou.

- (Silêncio)
- Desculpe-me á hora é que meu coração demorou pra acorda. Um mês e meio sem você e já estou pensando até em suicídio. Ando com o corpo todo congelado pela falta do teu. Por favor, peço que não demore a regressar. Eu virei alguém que eu não reconheço sem você. Perdoe as minhas falhas, reescrevas as minhas cartas, retome o nosso amor.
- (...)

Não disse nada nos poucos minutos que a ligação levou, desliguei o telefone antes mesmo que aquele passado se despedisse. Meu peito ainda andava muito amargurado e acredito que nunca perdoaria nada, nem o mínimo. O ridículo de toda situação é que ainda nutria algo, porque aquelas palavras me fizeram fraquejar por um instante. Desliguei, mais tinha tanto o que dizer. E foi melhor assim, precisava arranjar um jeito de cuspir esse sentimento.

Não podia mais continuar, naquela casa. O quarto me lembrava algo que precisava esquecer e os moveis ainda tinha um sorriso meio tosco. Decidir mudar de cidade e até os discos prediletos joguei fora. Só não conseguir mudar de coração, tirar o gosto de saudade adormecida que ele deixava na boca. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário